No resto do dia, Jairo Garcia ficou a se perguntar:
- Quem seria aquela guria do lado de lá?
Fascinado por sua nova descoberta, chegou a esquecer o peixe roxo. Passou a lembrar mais vezes do violão. Ah, se o tivesse consigo aquele dia, talvez tivesse mantido a moça por lá mais um momento. Talvez brotasse ali uma canção e até um amor, do jeito que deveria ser algum dia.
E no dia seguinte ela não apareceu por lá. Isso causou nele um certo abatimento; andou pela margem como costumava fazer. Chovia. Cobriu o violão com seu casaco marrom e seguiu a esmo, procurando alguma coisa, como sempre, porém desta vez, de maneira inédita, sabendo exatamente o que queria encontrar.
Olhava a outra margem esperando uma presença, frustrando-se pouco a pouco em cada busca. Ouviu os cães do velho Jacó latindo ao longe, e, sem saber no que pensava, descobriu por acaso que todas as histórias eram de amor e que por isso ainda não conseguira escrever uma canção. Era um bom momento para tentar.
Sentou debaixo de um jacarandá e dedilhou alguma coisa em lá menor, esfolando alguma rima aqui e ali; soou bem; nunca mais se lembraria dessa canção.
Era um dia chuvoso e Jairo encontrara algo que não sabia procurar. Tinha para si, naquele olhar da véspera, um mistério; uma força exercida sobre si que ele não saberia - jamais - controlar. Fechando os olhos e se escorando no tronco da árvore, descobriu que isso era bom.
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