terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

03.

   Por entre as pedras, sobre elas, em volta delas, a água corria para o mesmo lado de sempre; Jairo olhava para o mesmo lado de sempre. Desta vez a paisagem era diferente. Cabelos loiros. Desta vez a caminhada de Jairo deixou de ser um impulso irrefreado. Gestos suaves. O ato solitário de contemplar aquele lugar estava, agora, inevitavelmente alterado para sempre, mesmo sem ele saber. Molhava os pés. Teria ela não o notado ou não se importado? Lavava as mãos. Brancas. Parado em frente a ela, Jairo esperava ansiosamente, sem saber exatamente disso, pelo momento em que ela levantaria o olhar e cravaria nele algum sentimento que ele não saberia sequer nomear. Erguia o rosto. Nele Jairo viu, sem entender, um mundo que ele jamais imaginara. Sorria. Sem saber, ele também sorria. Usava um vestido colorido e se levantava para ir embora. Ele não a seguiria, não hoje, pois não seria capaz. 
   Era época de chuvas e o rio estava muito cheio. Pela primeira vez, ele se tornara um obstáculo.

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