sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

02.

   O peixe roxo não era seu. Por isso, mesmo tendo-o em suas mãos por um instante, Jairo o deixara partir. Sobre isso ele aprendeu sem que alguém lhe ensinasse. Ali naquele gramado estava acompanhado apenas do rio, mestre silente em suas lições, ruidoso anunciante da passagem do tempo.
   De vez em quando, trazia consigo o violão preto, cordas de nylon.
   De vez em quando, levava de volta a vontade de ter ficado ali.
   Acabava voltando para casa e dormindo enrolado num lençol branco, com o pé para o lado de fora, pois nunca conseguia evitar esse desfecho. O dia começava e acabava e começava no mesmo lugar; quando começasse de novo, sairia fazer qualquer outra coisa e, sem planejar, chegaria até o rio; saudava-o sem dizer palavra; acompanhava por querer o seu correr, divagando sobre ele e aquilo. Isso começava e nunca acabava no mesmo lugar. Ali havia mistério. Mas não sabia exatamente como dizer isso, como compor aquela percepção em poesia, música.
   Enquanto caminhava, tentando pensar em algo bonito, encontrou uma beleza inesperada. Ela tinha 16 e ele não sabia seu nome.

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