terça-feira, 14 de janeiro de 2014

06.

   Havia um mundo de paz na solidão impermeável do rio.
   Ao sair, Jairo não encontrou suas roupas. Olhou em volta, surpreso por não estar assustado, e notou também que a vegetação havia mudado. Limpou o rosto, os olhos, clareando um pouco a visão daquele novo ambiente que, no entanto, continuou o mesmo. A árvore na qual se havia escorado deixara de existir; perto de suas canelas, notou um pequeno arbusto que se movia como que a contragosto com o vento; parecia prestes a resmungar.
   Deu dois passos na direção do barranco, procurando uma pedra plana, onde pudesse sentar sem encher o cu de terra; encontrou; sentou. 
   Ergueu os olhos e viu, do outro lado do rio, ao pé de um tronco, suas roupas. 
   Sorriu e se levantou.

05.

   Aquele rio era um rio barroso. Jairo ouvira falar, mais de uma vez, sobre as propriedades medicinais da lama, apenas não lembrava exatamente quais males ela poderia aplacar. Pensando na sua angústia, que precisava de um remédio, resolveu tomar um banho de rio. Largou suas roupas e se lançou a um mergulho do qual jamais voltaria como era antes.